Conca no Vasco ? Você lembra ? Veja aqui a carreira do Argentino em São Januário

Dario Leonardo Conca já escreveu seu nome na galeria de ídolos do Fluminense. Em duas passagens e quase quatro anos vestindo a camisa tricolor, o meia tem 224 jogos, 45 gols e um título brasileiro em 2010, com direito a participar de todas as partidas da campanha e ainda conquistar o prêmio de craque da competição. Diante de tanta identificação nas Laranjeiras, há até quem se esqueça da passagem do argentino por São Januário. E o passado vascaíno do camisa 11 tem a ajuda essencial de um compatriota, timidez exagerada, o início de uma história de amor e até mesmo um carinho especial pelo Vasco, clube que teve papel importante em sua adaptação no futebol brasileiro.

Flu x Vasco por Conca em 2006

Fluminense e Vasco começam a decidir na próxima quinta-feira, às 21h (de Brasília), no Maracanã, uma das vagas na final do Campeonato Carioca de 2014. Quando o assunto é Conca, no entanto, a disputa começou no fim de 2006. Após o fim de seu empréstimo para o Rosário Central, o argentino voltou ao River Plate e mais uma vez não seria aproveitado. Surgiram então os interesses do Tricolor, clube que Conca eliminou da Copa Sul-Americana do ano anterior defendendo a Universidad Católica, e o Cruz-Maltino. Melhor para o clube de São Januário, que anunciou a contratação no dia 29 de dezembro por empréstimo de um ano.

Se hoje Conca ainda convive com o rótulo de tímido na frente das câmeras, em São Januário a timidez se estendia até o vestiário. O meia pouco falava até mesmo com os companheiros e chegava a ser arredio com os jornalistas. Certa vez, quando foi abordado por um repórter na portaria do seu prédio, em Ipanema, Zona Sul do Rio, fugiu do jornalista e quase foi atropelado ao atravessar a rua sem olhar para os lados. 


Na luta para se adaptar ao novo país, o atual camisa 11 do Fluminense teve a ajuda importante de um compatriota: Emiliano Dudar. Vivia grudado no zagueiro vascaíno ao ponto de ir morar na mesma rua que ele. Quando o amigo dava entrevistas no estacionamento do clube (algo que a timidez não deixava o apoiador fazer), Conca esperava encostado no carro do compatriota. Quando chegou ao Brasil, ele tinha ainda uma namorada argentina, que estudava em Rosario. O jogador não queria que ela mudasse totalmente de vida e o casal enfrentou o problema da distância. O romance não foi adiante e abriu caminho para outro acontecimento importante na vida de Conca acontecer em São Januário: foi lá que ele conheceu Paula, hoje sua esposa e mãe de seu filho Benjamin. Ela era vascaína de arquibancada.

- Conca era mais tímido ainda em 2007, falava muito pouco. Até no campo ele era calado. Quem o ajudou muito foi o Dudar. Quando ele começou a namorar, as coisas melhoraram. Acho que isso ajudou ele - lembrou o ex-jogador Morais, companheiro do meia no Vasco.

Nada de gols contra o Vasco

Dentro de campo, Conca teve dificuldades para se firmar no Vasco com o técnico Renato Gaúcho. Segundo o hoje treinador do Fluminense, o meia precisava ganhar mais preparo físico. Foi a entrada de Celso Roth, depois da eliminação para o Gama, na Copa do Brasil, que abriu espaço para o argentino. Renato caiu, Roth assumiu e conseguiu fazer o então camisa 8 jogar. Curiosamente, o meia e Renato se reencontraram em 2008 nas Laranjeiras e a situação foi totalmente diferente.

- Logo que chegou ao Vasco, ele era magrinho, um jogador que não gostava de treinar a parte física. O Alexandre (Mendes, preparador físico) fez um trabalho especial com ele. Para dar mais corpo, mais suporte físico. Não gostava muito, sofreu. E depois foi entender que era importante. O Alexandre foi muito importante. Ao evoluir na parte física, melhorou na parte técnica. Ficou difícil de ser marcado. A massa muscular que ele ganhou o ajudou a escapar dos marcadores. No futebol brasileiro, quem aparece é muito marcado - afirmou Renato em entrevista recente.

Em um ano, Conca disputou 50 partidas com a camisa do Vasco e marcou oito gols. Um deles foi justamente contra o Fluminense, em um belo chute de fora da área, em partida válida pelo segundo turno do Campeonato Brasileiro de 2007 (relembre o lance no vídeo ao lado). Ao todo, o argentino disputou dois jogos contra o Flu e ambos terminaram empatados (4 a 4 e 1 a 1). Com a camisa tricolor, porém, a história é outra. Apesar de já ter marcado contra Flamengo (3x) e Botafogo (1x), Conca nunca balançou a rede do Vasco. E já enfrentou o ex-clube em 11 partidas.

Mesmo sem ser titular durante toda a temporada, o argentino carregou o time do Vasco em algumas partidas de 2007 na opinião de Morais. Mas ele acredita ainda que a boa adaptação em São Januário ajudou o craque a bilhar de vez nas Laranjeiras.

- Conca teve um bom começo no Vasco, chegou voando. Mas havia outros jogadores, como o Leandro Bonfim, eu, e ele chegou a ficar na reserva. Ainda assim, carregou o time em alguns momentos mesmo com sua timidez. Mas seu primeiro ano no Brasil foi de adaptação. Tanto que ele começou a render muito bem no Fluminense. No Vasco ele só jogou 50% do que mostrou no Flu. Foi nas Laranjeiras que ele estourou mesmo. Até comentávamos no Vasco em 2008 que se ele não tivesse saído, as coisas seriam diferentes. Não tenho dúvidas disso - frisou Morais, lembrando o ano em que o clube foi rebaixado para a Série B pela primeira vez.

A dificuldade de comunicação sempre um dos maiores problemas do argentino. Quem conviveu com Conca na época do Vasco e convive hoje não tem dúvidas ao decretar que ele mudou muito. Continua sendo reservado, mas virou outra pessoa. É extrovertido, brinca com companheiros e funcionários e já não tem aversão aos jornalistas - apesar de ainda dar poucas entrevistas.

- Conca continua o mesmo craque, se adaptou, humilde, aquela pessoa de sempre. É um prazer vê-lo jogar. Ele é um dos ídolos da torcida. A única coisa que mudou nele é que ganhou uma língua. Não para de falar. Agora fala com todo mundo, o tempo todo, a gente tem que pedir para ele parar de falar. É outro jogador. Está feliz, muito comunicativo com vocês da imprensa, com o grupo, com os funcionários. Essa é a grande diferença que notei nele. Na outra passagem pelo Fluminense ele não falava quase nada. Não era de falar. Agora não para de falar, é bom, bom para o português dele, que já é correto. Nesse sentido ele mudou. E ganhou mais experiência - afirmou Renato.

Para Morais, Conca não era feliz por completo em seu primeiro ano no Brasil.

- No Vasco, ele era muito na dele e isso influencia dentro de campo, envolve a parte psicológica. Agora ele se soltou, está se sentindo feliz. Em 2007, ele ainda não era feliz por completo.

Conca com a esposa Paula na China: casal se conheceu em São Januário (Foto: Lydia Gismondi)
Carinho pelo Vasco

Mas não dá para negar que a passagem por São Januário criou em Conca um carinho especial pelo Vasco. Prova disso é que o jogador sofreu com o rebaixamento do clube em 2008, quando já defendia o Fluminense. Na reta final daquele Brasileirão, o argentino não escondia o abatimento com a iminente queda do Cruz-Maltino e sempre perguntava pelos resultados dos jogos. Como consequência, tinha que aturar as brincadeiras de alguns jogadores do elenco tricolor, como os zagueiros Luiz Alberto e Thiago Silva.

Não dá negar também que a Cruz de Malta já deu lugar às três cores que traduzem tradição no coração do argentino. A identificação com o Fluminense é enorme depois de 224 partidas, marca que garante ao camisa 11 o posto de estrangeiro que mais vestiu a camisa tricolor. Ao Vasco, restou a gratidão. Sentimento bem resumido em uma declaração de Conca antes de um clássico pelo Campeonato Brasileiro de 2010, justamente a competição que lhe garantiu um lugar de destaque na galeria de ídolos das Laranjeiras.

- Eu sou grato ao Vasco, por tudo que me ensinou. Quando eu cheguei aqui, tive dificuldades no primeiro ano, nos primeiros seis meses no Brasil. Sou agradecido. Tenho amigos lá, domingo tem Vasco x Fluminense, mas hoje estou no Fluminense e dou tudo pelo Fluminense. Apesar do bom momento que vivi no Vasco, hoje dou tudo pelo clube onde estou e me sinto melhor - resumiu o jogador em agosto de 2010, meses antes de sagrar-se campeão nacional.