Wagner evita peladas e se vê livre de dor como uma 'facada no abdômen'


Wagner mudou. E para melhor. Depois de uma temporada inconstante em 2012, de readaptação ao futebol brasileiro e dificuldades para fazer gols, como o próprio define, o apoiador começou o ano em alta. Foram deles os dois gols de cabeça que garantiram a vitória do Fluminense sobre o Nova Iguaçu por 2 a 0, no último domingo, em São Januário, na estreia no Campeonato Carioca. O desempenho reforça o objetivo traçado ainda nas férias. Após uma visita renovadora à sua cidade natal, Morada Nova, em Minas Gerais, o camisa 19 colocou no lugar os pilares necessários para fazer de 2013 o grande ano de sua carreira.
Mas, para alcançar seus objetivos, ele precisou superar uma das piores lesões de sua carreira. A pubalgia já o incomodava havia três meses, quando ele desistiu de lutar contra as dores. O basta foi em 25 de outubro do ano passado, na vitória por 2 a 1 sobre o Coritiba, pela 33ª rodada do Campeonato Brasileiro. Desde então, foram mais de 70 dias de recuperação até a redenção com os dois gols na estreia. Uma luta contra uma dor que insistia em persegui-lo e parecia uma facada em seu abdômen.

Wagner jogador do Fluminense (Foto: Edgar Maciel de Sá)Wagner e os filhos Yuri, de quatro anos, e Noah, de dois, na varanda de sua casa (Foto: Edgard Maciel de Sá)









- Era uma dor insuportável. Quando você corre, ela te trava. E, quando você chuta, é como se fosse uma facada no abdômen. É muito ruim, pior que lesão muscular ou torção no tornozelo. É atípico. Pior: dá para jogar, mas não para render 100%. Joguei três meses com essa dor. Mas chegou uma hora que não suportei. Estiquei a perna contra o Coritiba, e puxou já o adutor. O púbis prejudicou um adutor, e o outro já estava começando a doer também. Um problema virou dois e já estava querendo virar três. Eu tinha que parar - revelou o apoiador em entrevista ao GLOBOESPORTE.COM na manhã da última segunda-feira.


De fato, 2012 foi um ano complicado para Wagner pelo lado pessoal. Se dentro de campo ele voltou ao Brasil e terminou o ano com dois títulos conquistados, fora dele o apoiador teve de enfrentar duas perdas dolorosas: as mortes da avó Dirce e do primo Igor, atropelado aos 15 anos. Nesta entrevista na sala de sua casa, na Barra da Tijuca, o herói da primeira vitória do Fluminense no ano listou os fatores que o fazem acreditar que 2013 será um ano diferente, se disse aliviado pela recuperação da lesão no púbis que o tirou da reta final do tetracampeonato, avaliou como positiva a contratação de Felipe e deixou claro que, jogando em sua posição de origem, na função de um camisa 10, pode render bem mais.

- As minhas melhores características aparecem nessa posição. Pegar a bola, ir para dentro, dar passe para o centroavante e até mesmo chegar na área para fazer o gol. E no último domingo foi apenas a segunda vez que eu atuei nessa função com a camisa do Fluminense - disse.


Dava para esperar uma estreia melhor do que essa?
Acho que não. Eu até esperava uma boa estreia com um golzinho. Era isso que eu planejava para começar o ano bem. Mas fiquei feliz de começar o ano ajudando a equipe a vencer, fazendo logo dois gols. Dessa maneira está dentro daquilo que estou planejando para 2013.

Depois do jogo, você disse que pretendia fazer de 2013 o melhor ano da sua carreira. Por que deu essa declaração?
Os primeiros seis meses de 2012 foram de adaptação para mim. No segundo semestre eu consegui jogar, tive duas sequências boas, mas sempre faltava aquele algo a mais. A bola batia na trave, o goleiro pegava... Parecia que não era para ser ainda. Por isso acredito que tudo está guardado para este ano. Agora as coisas vão acontecer e eu acredito muito nisso com pensamento positivo. Estou trabalhando mais forte do que na temporada passada para que as coisas aconteçam.

De onde vem tanta confiança?
Estou mais confiante porque aqueles pilares que sustentam a minha vida estão de novo no lugar. A base familiar está superbem, as coisas que antes davam errado agora estão dando certo.

O que dava errado?
Eu estava com muitos problemas familiares com meu pai, coisas lá em Morada Nova (MG). Perdi minha avó e meu primo de 15 anos em 2012. Foi complicado, e ainda estava me incomodando. Mas depois que estive na minha cidade, no fim do ano, consegui resolver várias coisas e consegui colocar tudo no lugar. Tive uma conversa muito boa com meu pai, minha mãe e meu irmão. Disse que este seria o meu ano e que precisaria deles do meu lado, sem dor de cabeça. Estou tranquilo agora. Acho que a base familiar estando bem, em casa com minha esposa e filhos também está tudo certo, já é o suficiente para que eu possa brilhar em campo.


Wagner comemora gol do Fluminense contra o Nova Iguaçu (Foto: Nelson Perez / Fluminense. F.C.)Wagner comemora um de seus gols com Michael
e Rhayner (Foto: Nelson Perez / Fluminense. F.C.)

No ano passado, você disse que seu objetivo no Fluminense era jogar ainda melhor do que em sua fase mais destacada no Cruzeiro. Acha que esses primeiros minutos em campo em 2013 já mostraram que essa meta é possível?

Acho que sim, ainda mais que no ano passado eu estava jogando na vaga do Deco, mais pela esquerda. Marcando bem e sem as minhas principais características de meia. Já contra o Nova Iguaçu, o Abel me colocou ali atrás dos dois centroavantes e consegui chegar bastante na área. Ali é a minha posição, onde eu mais gosto de jogar e meu futebol aparece mais. Se ele precisar que eu jogue em outra posição, não tem problema. Estou no clube para ajudar. Mas o lugar em que mais consigo render é como o número 1 no meio-campo, a posição que eu exercia no Cruzeiro.

Você disse isso em entrevista recente, sobre ter preferência por atuar como um camisa 10. Contra o Nova Iguaçu foi uma das primeiras vezes em que você exerceu essa função no Fluminense?
Para falar a verdade, foi a segunda vez. A primeira foi na final do Troféu Luiz Penido, na vitória por 2 a 0 sobre o Volta Redonda. Até dei um passe para o Lanzini fazer o primeiro gol. As minhas melhores características aparecem nessa posição. Pegar a bola, ir para dentro, dar o passe para o centroavante e até mesmo chegar na área para fazer o gol.

Quem é o titular atualmente na sua posição ideal?
A gente estava jogando com o Fred na frente e três logo atrás dele (Nem, Thiago e Deco). No domingo, o Abel mudou o esquema quando eu entrei. Não tem ninguém na posição que eu quero. Melhor para mim (risos).

Como avalia a temporada de 2012? Você deixou a desejar? Ou foi difícil como esperava?
Até converso muito com a molecada sobre isso: se você faz o gol, muitas vezes ele apaga várias coisas. E no ano passado faltou isso. O gol não estava saindo. Até me lembrei outro dia de um lance contra o Sport. O Thiago (Neves) não desistiu de uma bola, cruzou na área, eu cabeceei livre, e o goleiro fez uma grande defesa. Não tem como, não era para ser. Tiro as coisas boas. Joguei várias vezes no segundo semestre, a gente foi campeão de dois campeonatos. Infelizmente me machuquei, mas ainda assim pude contribuir com boas assistências, como a do gol da vitória sobre a Ponte Preta em São Januário. Eu jogava bem, mas o gol não saía. Agora, começar o ano com dois gols me faz crer que a temporada será diferente. Tenho o pensamento positivo de que será um ano muito bom.
Eu estava com muitos problemas familiares com meu pai, coisas lá em Morada Nova (MG). Perdi minha avó e meu primo de 15 anos em 2012. Foi complicado, e ainda estava me incomodando. Mas depois que estive na minha cidade, no fim do ano, consegui resolver várias coisas e consegui colocar tudo no lugar"
Wagner, sobre a visita a Morada Nova


A lesão no púbis lhe preocupou?
Foram dois meses e meio de recuperação. O Abel estava bem preocupado. Ele mesmo teve essa lesão e ficou uns cinco meses parado. O Leomir também me contou que o filho dele que joga futebol está se tratando há seis meses. Por isso todos tiveram um cuidado muito grande, e eu também fiquei preocupado. Fiz tudo aquilo que o departamento médico pediu. Tratei nas férias, fiquei de repouso em casa, vi os amigos jogando pelada e não podia. Devo muito ao departamento médico. O Fábio (Marcelo, coordenador de fisioterapia do Flu) e sua equipe fizeram um trabalho comigo que hoje me permite dizer que estou 100%, zerado.

Como era a dor?
Insuportável. Quando você corre, ela te trava. E, quando você chuta, é como se fosse uma facada no abdômen. É muito ruim, pior que lesão muscular ou torção no tornozelo. É atípico. Pior: dá para jogar, mas não para render 100%. Joguei três meses com essa dor. Mas chegou uma hora que não suportei. Estiquei a perna contra o Coritiba, e puxou já o adutor. O púbis prejudicou um adutor e o outro já tava começando a doer também. Um problema virou dois e já estava querendo virar três. Eu tinha que parar.

Foi frustrante ficar fora da reta final do Brasileiro e não estar presente no jogo do título em Presidente Prudente?
Foi triste não poder participar da festa depois de toda a caminhada. Queria estar lá. Sofri muito com minha esposa vendo o jogo. Mas eu estava tranquilo porque sabia que na frente viriam coisas boas. Procurei me concentrar nisso, tratar, me cuidar. Foi um período muito difícil e que graças a Deus passou. Quando o jogo acabou, eu fiquei pulando feito um louco na sala, com meus dois filhos, gritando "é campeão!".

E como foi no jogo de domingo e depois? Sem dores?
Está tranquilo. Após os jogos e coletivos, o adutor fica meio travado. Mas o Fábio já conseguiu um mecanismo para que ele volte ao lugar. Encontramos esse macete de colocar a pélvis no lugar. Sem problema algum agora.

Não ter feito toda a pré-temporada com o restante do grupo pode lhe prejudicar no restante do ano?
Acho que não. Fiz todos os treinos físicos com o elenco. Só perdi uma semana de treino com bola. Estava um pouco atrás do grupo na parte física, mas nessa última semana já deu para chegar perto do pessoal. Acredito que nos próximos dias já estarei muito melhor.

O Abel disse antes da estreia que você iria entrar no segundo tempo. E depois da vitória garantiu a mesma coisa pelo menos nos próximos três jogos, independentemente do resultado da partida. O quão importante é ter essa confiança do treinador?
É o que dá tranquilidade para a gente trabalhar. Jogador fica se preparando ao máximo sempre. Quando chega o treinador e fala que você vai jogar, dá a tranquilidade para eu continuar fazendo o reforço muscular necessário e me preparar para pegar essa sequência boa de jogos.

wagner especial (Foto: Edgard Maciel de Sá)Com os filhos e a camisa autografada por todo o elenco que mandou emoldurar para festejar a conquista de seu primeiro título brasileiro (Foto: Edgard Maciel de Sá)


Como você viu essa busca do Fluminense por mais um meia?
Vi com bons olhos. Vamos ter mais um campeonato para disputar neste ano. Então, um cara com o gabarito e a experiência do Felipe só vai nos ajudar. Já trabalhou com o Abel, é vencedor, foi bem recebido. É da mesma posição que eu, mas todos se respeitam e querem seu espaço. Vou continuar dessa maneira.

É uma disputa complicada?
É sadia. É bom disputar posição com craques de como como Deco, Felipe e Thiago Neves. O ruim é quando você disputa a vaga com um cara ruim e perde (risos). O mais importante a gente tem: o respeito. Foi a receita do ano passado. Isso nos levou muito longe. São poucos os clubes que tem grandes estrelas como o Fluminense e não tem dor de cabeça. O Felipe chega para agregar e vai nos ajudar muito.


Fonte: Globo Esporte

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