Ainda aguardando proposta, Leandro Euzébio fala do Flu e dos momentos inesquecíveis no clube


Nos quatro anos em que foi jogador do Fluminense, time do coração do falecido pai, Leandro Euzébio atuou em 167 jogos, marcou 15 gols e ajudou a conquistar, além dos Brasileiros de 2010 e 2012, um Campeonato Carioca e uma Taça Guanabara. Foi o clube que o zagueiro mais defendeu na carreira e, numa entrevista de pouco menos de uma hora, a equipe mais citada por ele.

Gols, risadas, amizades, a histórica escalada na baliza para comemorar o Brasileirão de 2010. São tantos os bons momentos no Tricolor que o jogador tem dificuldade na hora de apontar o melhor, o mais marcante. Revelado nas categorias de base da própria equipe, ele também passou por Bonsucesso, Náutico, América-MG, Cabofriense, Cruzeiro e Goiás, além de um período no futebol do Japão (entre 2007 e 2008, vestiu a camisa do Omiya Ardija). Mas o clube das Laranjeiras, ainda assim, é aquele que mais mexe com o zagueiro.

– O Fluminense é um clube que marcou e vai ficar marcado para sempre. Sem dúvida nenhuma, poucos vão conseguir a minha história no clube, essa façanha que tive dentro da equipe. É uma história bacana que foi conquistada não só por mim, mas pelos meus companheiros, que também me ajudaram muito.

Mesmo diante desse panorama, Leandro saiu do Fluminense sem muito prestígio. Não arranjou polêmica, muito menos deu adeus pela porta dos fundos. Porém, o episódio do seu desligamento se deu como um outro assunto qualquer, sem alarde. Como se os torcedores pouco lamentassem. Mágoa? Não, nenhuma.

– Em muitos clubes de futebol, o verdadeiro jogador que ama o clube sempre paga por alguma coisa. Mas, de maneira alguma, deixei de sair do Fluminense de cabeça erguida. Nunca saí falando da instituição Fluminense. Se tiver que falar de alguém, não vou falar nunca da instituição, muito menos da torcida – garante.

Confira a entrevista de Leandro Euzébio ao GloboEsporte.com.

Em que ponto da carreira você acha que está? O auge foi no Fluminense? Ainda tem muita coisa por vir?

Leandro Euzébio: Acredito que ainda tenho lenha para queimar. Estou novo ainda, tenho 33 anos de idade. Tive uma boa passagem pelo Fluminense, mas acho que em outros clubes deixei uma história bacana também. Como foi no Náutico, que estava há 12 anos sem subir, e conseguimos no ano em que eu disputei (2006). E no Japão também deixei uma história bacana. Livrei o time do rebaixamento aos 43 do segundo tempo.

Quatro anos de Fluminense... foi o clube que mais marcou a sua vida?

Foi. O Fluminense é um clube que marcou e vai ficar marcado para sempre. Sem dúvida nenhuma, poucos vão conseguir a minha história no clube, essa façanha que tive dentro da equipe. É uma história bacana que foi conquistada não só por mim, mas pelos meus companheiros, que também me ajudaram muito.

Pretende voltar?

Acho que meu ciclo no Fluminense, como jogador, está encerrado. Mas no futuro quero ser treinador. Então é sempre bom deixar as portas abertas para um dia poder voltar.

Momento mais marcante? Foi subir na trave quando foi campeão?

Foram dois jogos no Brasileiro de 2010 que ficaram marcados na minha mente. Contra o Cruzeiro, pude dar a liderança à equipe. Foi uma coisa extraordinária, porque no outro dia eu era o cara dentro do clube. Todo mundo brincando comigo, me zoando. Sem dúvidas, o título também foi marcante. Até porque, durante a semana, estávamos muito ansiosos até chegar a hora do jogo. Não só o Fluminense estava brigando, mas o Corinthians e o Cruzeiro também estavam. Chegar no jogo e conquistar o objetivo, sem dúvida nenhuma, foram momentos marcantes. E eu já tinha aquela ideia de subir na trave. Alguns jogadores já haviam feito isso.

Então você já tinha aquela ideia? De onde veio?

Estava na concentração, olhando para a cara do André Luiz, aquela cara de mal dele (risos). Fiquei pensando: “Pô, ele é grandão. Dá para fazer uma coisa se formos campeões”. E tive essa ideia, que ele podia me dar o “pezinho” para subir na trave.

Você já falou do melhor momento da sua carreira. E o pior?

O pior foi o objetivo que não só o Leandro Euzébio, mas que a torcida, a nação tricolor também queria tanto: um título de Libertadores (com o zagueiro, o clube disputou a competição em 2011 e 2013). O Fluminense tinha tudo para chegar na final. Foi a maior decepção. Não só do Leandro Euzébio, mas de muitos que queriam aquele título.

Sempre foi um cara que marcou poucos gols. Qual foi o mais marcante?

Eu costumo dizer que foi um gol que fiz no Japão. Acho que nem o Pelé, nem o Maradona, muitos jogadores não fizeram. Vai ficar marcado para sempre. Uma bola que peguei lá atrás e fui levando até o gol. Mas esse contra o Cruzeiro, que deu a liderança, ficou marcado também.

Em 2010, a zaga do Fluminense foi a menos vazada de todo o Brasileiro, com apenas 36 gols sofridos. Qual foi o segredo daquela zaga, daquele time?

Tínhamos um grupo muito forte, unido, focado no objetivo. Quando você tem um grupo assim, sem dúvidas, fica difícil de tirar. E tínhamos um comandante, o professor Muricy (Ramalho), que era excepcional no seu dia a dia. Conversava com todos os atletas, passava tudo que era bom para cada um de cada posição. Um cara que deu oportunidade para cada jogador. Sem dúvida nenhuma, esse foi o fator positivo. O grupo, dentro e fora de campo, era muito unido. Em todo ambiente, tinha uns cinco jogadores. Quando fazia confraternização, todos os jogadores iam.

Você falou do Muricy. Foi o melhor treinador com quem você já trabalhou?

Tem vários. Acho que o Muricy fez muita coisa boa no Fluminense e em outros clubes. É um excelente treinador, que merece seleção brasileira. Mas também tem o Dorival (Junior), com quem gostei muito de ter trabalhado. O professor (Vanderlei) Luxemburgo, o Abel Braga, excelente profissional também.

E o Gum, seu parceiro de zaga por algum tempo no Fluminense. Ainda fala com ele? Como é sua relação?

É um cara que se tornou um irmão. A convivência sempre fortalece no dia a dia. E nós, zagueiros, tínhamos uma amizade muito grande. Não só eu e Gum, mas Anderson, Digão, Elivélton, os meninos da base que subiam. Então, deu certo essa minha convivência com o Gum. Nos entendíamos bem e pudemos ajudar o Fluminense a ser campeão com um número baixíssimo de gols. Sem dúvidas, foi importante não só para nós, mas para o grupo.

Você foi bicampeão brasileiro pelo Fluminense, foi o clube por onde você mais atuou. Mesmo assim, você foi alvo de muitas críticas do torcedor tricolor. Você acredita que poderia ter um prestígio maior com a torcida do Fluminense do que esse que você realmente tem?

O torcedor é só emoção. Vai tudo pela emoção. O exemplo disso é a Copa do Mundo, quando você tira um só jogador que serve, e o resto não serve. Isso, para mim, é normal. Tenho 33 anos, estou acostumado com isso. Torcedor sempre tem preferência por A ou B. Vai torcer por um, vai torcer por outro. É normal.

Você concorda então que poderia ter mais prestígio com os tricolores?

Em muitos clubes de futebol, o verdadeiro jogador que ama o clube sempre paga por alguma coisa. Mas, de maneira alguma, deixei de sair do Fluminense de cabeça erguida. Nunca saí falando da instituição Fluminense. Se tiver que falar de alguém, não vou falar nunca da instituição, muito menos da torcida.

Falando de um tema mais atual, como foi a experiência no Al-Khor, do Catar?

É complicado chegar numa cultura diferente. Tudo para você não é bom, tudo para você é ruim. Mas acho que o melhor é a qualidade de vida, uma qualidade fora de série. Diferente do Brasil. Cheguei no clube, aconteceram algumas coisas que não foram favoráveis para mim. Cheguei a treinar um mês e não me senti legal. Conversei com o presidente e achei melhor não prejudicá-los. Até porque a janela de transferência fechava no fim do mês, e uma coisa boa que consegui fazer foi não prejudicar a equipe do Al-Khor.

Você disse que aconteceram algumas coisas que não foram favoráveis. Que coisas foram essas?

Acho que o forte calor. É muito quente lá, o tempo todo. E viver sozinho num lugar como aquele, sem dúvida, é ruim demais.

O Leandro Euzébio que a gente conhece é fechado, de poucas palavras. Algumas vez na sua vida e carreira, confundiram esse seu jeito com arrogância? Isso te prejudica?

Ah, sem dúvida nenhuma. Às vezes as pessoas criticam muito, mas porque não sabem, não me conhecem direito. Sou um cara na minha, caladão, observador. Você acaba pagando por alguma coisa. Mas é algo que não me incomoda de maneira alguma. É algo que só eu tenho. Meu coração é puro, não tem maldade, não tem nada. Ajudo muitas pessoas que me procuram. Sou um cara vitorioso.

Eu queria saber como é o Leandro Euzébio com a esposa? É o estilo cavalheiro, que abre a porta do carro?

Ah, eu faço o feijãozinho com arroz (risos). O que tem que fazer eu faço.

E o que seria o feijão com arroz?

Feijãozinho com arroz é fazer tudo aquilo que vai agradar a sua esposa. Não só a ela, mas aos filhos também.

E esse samba que você compôs para a Mocidade? Você realmente compôs, participou desse processo de composição?

Na verdade, participei muito pouco. O Karlinhos Guerreiro, da Mocidade, perguntou se podia botar o meu nome, que ia chamar o Mr. Catra também. Falei que não teria problema nenhum. E isso teve uma repercussão muito grande. Espero que tenha boa sorte, que possa ganhar.

Então, nessa história você só conhece o Karlinhos Guerreiro? Ou também conhece o Catra, o Paulo Barros?

É, conheço mais o Karlinhos. O Catra conheço no dia a dia aí, sabe como ele é. Um cara gente boa, sábio nas palavras. Tem tudo para dar certo.

E você gosta de samba, de carnaval? Costuma acompanhar os desfiles?

Eu tive várias oportunidades de ir à Marquês de Sapucaí. Mas como minha família toda é evangélica, prefiro ficar em casa. Gosto de ver só o desfile. Esse negócio de carnaval, não gosto muito, não.

Você já havia participado de uma composição de samba? É a sua primeira vez se envolvendo com música?

Essa foi a segunda. Tive a oportunidade, em 2010, de ser convidado pelo grupo Revelação para subir no palco, eu e o Wellington Nem, para cantar uma música com o Xande de Pilares. Foi uma coisa legal, bacana, que ficou marcada. É a minha banda preferida, e realizar esse sonho de cantar com eles foi muito bom.


Para finalizar, como você está hoje em relação à condição física? Se um clube te chamar hoje para jogar no fim de semana, você tem condições?

Não tenho hoje. Para atuar num clube assim, tem que chegar, fazer exame, mas no máximo em duas semanas estou em condições de jogar. Estou fazendo um trabalho em que sou muito exigido nos treinamentos. Espero estar não 100%, mas 70% quando um clube me contratar.

Fonte: Ge
Texto: Tébaro Schmidt
Foto: Fabio Castro / Agência Estadio