Novos executivos ganham espaço e ajudam a modernizar clubes de futebol

Rodrigo Caetano leva a experiência da época de
atleta para o cargo de diretor-executivo do Flu/ Photocamera
A administração dos clubes de futebol no Brasil há tempos é considerada ultrapassada. Problemas como a centralização de poder e a falta de planejamento a longo prazo ainda não foram plenamente solucionados. Neste cenário de caos, surgem nomes como Rodrigo Caetano, Edu Gaspar, Felipe Ximenes, Gustavo de Oliveira e Eduardo Maluf, os “executivos de futebol”. Remunerados e com o objetivo de planejar o futuro, estes profissionais ganham cada vez mais espaço e são protagonistas de uma profunda mudança no futebol nacional.

O executivo trabalha como elo entre elenco, comissão técnica e diretoria de uma equipe. Se algo está errado dentro do vestiário, cabe a ele informar e tratar com a cúpula para manter o bom ambiente. Em suas obrigações estão também traçar o planejamento de contratações, não somente para a atual temporada, mas duas ou três adiante, além de lidar com departamentos de marketing, finanças, jurídico e assessoria de comunicação.

Por tratarem com atletas e diretores, alguns destes profissionais em destaques são ex-boleiros. Casos de Edu Gaspar, do Corinthians, e Rodrigo Caetano, do Fluminense. A experiência dentro de campo e o fato de saberem como pensam os jogadores ajuda no trabalho. Após pendurar as chuteiras, Caetano se formou em Administração de Empresas pela PUC do Rio Grande do Sul, em 2006, e fez pós-graduação em Gestão Empresarial, pela FGV. Assim deu largada numa das carreiras executivas mais bem sucedidas do futebol brasileiro atual. 

“Eu fui atleta até 2003 e há dez anos estou nesta função. Sempre vislumbrei ter o mínimo de planejamento, um profissional que tivesse o mínimo de autonomia para fazer com que as coisas acontecessem dentro do departamento de futebol”, falou Caetano ao iG. 
Divulgação Felipe Ximenes foi duas vezes vice-campeão da Copa do Brasil como executivo de futebol do Coritiba
“Após encerrar minhas atividades nos gramados, eu procurei finalizar minha formação acadêmica, que, aliada à experiência prática dentro do campo, talvez tenha facilitado boa parte dessa caminhada”, completa o dirigente carioca, campeão brasileiro com o Flu em 2012.

Felipe Ximenes é um exemplo oposto. Fluente em inglês e espanhol, Ximenes é formado em Educação Física pela UFMG e mestre em Educação - Gestão Esportiva. Hoje sem clube, ele foi um dos responsáveis pelo tetracampeonato paranaense do Coritiba de 2010 a 2013 e pelos dois vices da Copa do Brasil em 2011 e 2012. Deixou o clube nesta temporada por entender que o “ciclo se encerrou”.

“Foram quatro anos de muitas conquistas, de muito aprendizado e troca de experiências. E eu me sinto realizado de ter podido ficar quatro anos em um mundo de tantas trocas de funções”, diz Ximenes, que compara a gestão de um clube à de uma empresa.

“A gestão do futebol hoje nada mais é do que gestão de pessoas, como qualquer empresa no mundo corporativo. O esporte é uma atividade extremamente burocrática porque algumas pessoas que são de outras áreas entram no futebol e acabam se dando bem. No sentido mais amplo da palavra, você precisa gerir pessoas, e é isso que eu procurei fazer”, explica o gerente.

Um problema comum a todos eles é o pensamento ainda retrógrado de alguns dirigentes com os quais muitas vezes precisam conviver. É o resquício de uma época em que reinavam cartolas como Alberto Dualib, Mustafá Contursi e Eurico Miranda. Mas esses dias, segundo eles, estão contados.

Jason Cairnduff / Action ImagesEdu Gaspar é dirigente do
Corinthians desde que se aposentou como jogador, em março de 2011
“Acho que já quebramos alguns paradigmas. Hoje nós já temos a convicção dos diretores estatutários de que precisam desses profissionais. O que se discute talvez é a questão de remodelar os estatutos para que esses profissionais realmente tenham a alçada necessária para tomar uma decisão, porque muitas vezes não podemos por causa dos estatutos, que são praticamente centenários”, afirma Caetano.

“É maior a qualificação dos profissionais. Isso é uma questão de mercado, é oferta e procura. Se os profissionais hoje estão ingressando nesta função, se tiverem a qualificação exigida, poderão contribuir ainda mais para as mudanças que os clubes precisam", analisa o executivo do Fluminense.

“É um processo que já se iniciou há alguns anos", concorda Ximenes. "É claro que em todo processo de mudança você tem a sensação de que as coisas não estão avançando na velocidade que deveriam. Mudanças muito profundas dentro do futebol já estão acontecendo, estão em curso. Nós temos clubes que já possuem esses processos bem segmentados, outros em processos e outros com um pouco mais de dificuldade. Esse processo de profissionalização dos clubes não para mais daqui para a frente”.

Às vezes, porém, o trabalho do executivo pode não ser compreendido pelos torcedores. Muito cobrado pelo planejamento do Corinthians para 2014 após uma temporada decepcionante, para quem vinha de um título mundial, Edu diz que o clube está preparado para as contestações.

“O planejamento está pronto desde setembro, só que não podemos falar. Seria muito mais fácil mostrar para o torcedor e deixá-lo tranquilo, mas não podemos fazer isso”, diz Edu Gaspar.

No São Paulo, Gustavo Vieira de Oliveira, advogado e formado em Gestão do Esporte, foi contratado em julho para substituir Adalberto Batista. Ele não gosta de conceder entrevistas, mas seu objetivo, que é dar harmonia ao elenco, foi cumprido ao menos nesta temporada. O clima no grupo é claramente melhor agora do que meses atrás, quando havia a ameaça de rebaixamento.

Já Eduardo Maluf pode é um dos responsáveis pela inédita conquista do Atlético-MG na Libertadores. O diretor foi contratado em junho de 2010 para se dedicar totalmente ao futebol do clube. Três anos depois e com um elenco que conta com Ronaldinho Gaúcho, o time vive o maior momento de sua história. Ainda tem o Mundial pela frente, mas a maior conquista fora de campo já foi obtida: a modernização do departamento de futebol.

Fonte: Esportes IG