Titular, Marquinho deixa rótulo de 12º jogador para trás: 'Incomodava muito

"Atualmente, todo treinador que vai enfrentar o Fluminense deve ter uma preocupação tática com o Marquinho. Talvez ele seja o jogador mais importante taticamente do Fluminense no momento. Nunca desempenha apenas uma função e também nunca joga na mesma faixa do campo da partida anterior. Para melhorar, ainda tem sido decisivo em alguns jogos". A declaração do técnico Abel Braga na véspera do último Fla-Flu resume bem o momento de Marco Antônio de Mattos Filho nas Laranjeiras. Contratado no início de 2009, Marquinho completou recentemente 150 partidas com a camisa tricolor. Desde que Abelão chegou, no entanto, o camisa 7 alcançou um de seus principais objetivos: deixar para trás o eterno rótulo de 12º jogador.

Não foram poucas as vezes em que Marquinho deu entrevistas nas Laranjeiras e precisou responder sobre o estigma que o perseguia. Normalmente, sua função era entrar na equipe para substituir algum titular que estivesse suspenso ou machucado. Após a reestreia de Abel, porém, o jogador foi titular em 23 das 28 partidas sob o comando do treinador. No segundo turno, o camisa 7 só ficou fora, pelo terceiro cartão amarelo, da derrota para o Atlético-MG, por 2 a 0, no último sábado, no Engenhão.

- Sempre falei que não gostava desse rótulo de 12º jogador. Isso me incomodava muito. Sempre fui um jogador do elenco e ponto. Dá para dizer hoje que o Rafael Moura é o 12º jogador? Não. Ele seria titular em qualquer outro time. Mas temos o Fred e o He-Man acaba na reserva. É uma opção do treinador. Isso sempre me chateou, mas também me motivava de certa forma. Queria deixar isso para trás. Tinha que jogar e manter uma regularidade. Agora alcancei esse objetivo - explicou Marquinho, que recentemente renovou seu contrato com o Tricolor até dezembro de 2013.

De volta ao time para a partida do próximo sábado, contra o Ceará, às 18h (de Brasília), no Estádio Presidente Vargas, em Fortaleza, o apoiador de 25 anos falou nesta entrevista ao GLOBOESPORTE.COM sobre o seu amadurecimento como jogador, disse que se considera uma peça importante do atual esquema tricolor e lembrou que ainda pretende fazer história no Fluminense antes de deixar as Laranjeiras. Confira a íntegra abaixo.

É o seu melhor momento com a camisa do Fluminense? Já foi campeão e agora conseguiu se firmar? Era um dos objetivos que eu tinha. Primeiro, voltar a jogar em uma equipe grande. Depois, me manter como titular. Agora sonho em ser um ídolo no futuro.

Seu futebol amadureceu? Na verdade, eu precisava me soltar mais. Depois que sai da base para o profissional, a maioria perde o atrevimento. Na base, eu era mais desinibido. No profissional, fiquei com mais receio. Agora comecei a me soltar um pouco mais e estou conseguindo mostrar meu futebol. Sempre acreditei nessa evolução e quero continuar assim.

No que mais você evoluiu?
A maturidade em campo. Quando era mais jovem, era afobado, fazia as coisas antes de pensar. Isso me atrapalhava muito em campo. Comecei a ficar mais tranquilo com a bola no pé, passei a pensar mais antes das jogadas, acreditar mais em mim mesmo. Acho que essa maturidade veio na hora certa.

O que mudou do Marquinho tímido do Botafogo para o Marquinho aparentemente imprescindível no Fluminense?
Essa transição da base para o profissional. Se você sobe e já joga no mesmo time é uma coisa. Você já conhece o clube, os funcionários, já fica mais a vontade na transição. Subi no Palmeiras e não joguei. Depois fui para o Botafogo, onde tudo era novo. Lá ainda tinha jogadores consagrados, como o Dodô. Fiquei um pouco assustado, sem saber o que fazer. Naquela época, o Cuca também já tinha o time pronto. Não tinha muito que fazer. Aprendi muito naquele ano (2007), com jogadores que me deram muita moral. Depois fui para o Figueirense e me destaquei. Acho que dei os passos certos para chegar onde estou.

Quais foram os principais responsáveis por isso?
Os treinadores que passaram pelo Fluminense. Desde o René Simões ao Abel Braga. Aprendi muito com os jogadores também. Roni, Paulo César, Conca, Deco, Fred... Os mais experientes dão alguns toques para ajudar e sempre levo em consideração.

Sente que deixou o rótulo de 12º jogador para trás?
Sempre falei que não gostava desse rótulo de 12º jogador. Isso me incomodava muito. Sempre fui um jogador do elenco e ponto. Dá para dizer hoje que o Rafael Moura é o 12º jogador? Não. Ele seria titular em qualquer outro time. Mas temos o Fred e o He-Man acaba na reserva. É uma opção do treinador. Isso sempre me chateou, mas também me motivava de certa forma. Queria deixar isso para trás. Tinha que jogar e manter uma regularidade. Agora alcancei esse objetivo.

Você se considera, então, uma peça-chave da equipe?
Peça-chave eu não sei, mas hoje acho que tenho uma certa importância para o time, sim.

Quando sentiu que isso realmente começou a mudar?
Acho que principalmente depois daquela partida contra o Coritiba, que eu fiquei fora pela questão da renovação de contrato. Na Libertadores, eu fiz bons jogos e já tinha ganho moral com o Abel Braga, mesmo com ele ainda longe. Mas acho que conquistei o nosso treinador de vez depois que voltei ao time naquela ocasião, na vitória sobre o Palmeiras, em Volta Redonda. Ali, consegui colocar na minha cabeça e na dele que eu poderia ser titular de vez.

Antes do último Fla-Flu, o Abel disse que todo adversário deve se preocupar taticamente com você, que desempenha uma função diferente a cada partida. Como é receber esses elogios do chefe?
É legal o Abel falar isso porque não é todo mundo que repara. Hoje em dia é mais fácil, porque eu consigo jogar mais. Logo, meu futebol aparece. Mas não são todas as pessoas que conseguem ver meu desempenho tático como ele e outros treinadores vêem. Fico feliz. Dentro do campo a gente se desgasta muito. Tem jogos que nem apareço muito. Fico mais na marcação. Contra o Corinthians, por exemplo. Marquei muito, corri para tudo quanto é lado para os outros jogarem. E muita gente achou que joguei mal. Só fiz outro papel no jogo. Quem tem que gostar do meu futebol é o treinador mesmo. Ele que me escala. Fico ainda mais motivado para seguir evoluindo.

Acha que a saída do Conca acabou contribuindo para você ganhar mais espaço?
Não. Conca faz falta e sinto falta dele. Estava acostumado a jogar com ele. Fizemos uma boa parceria no ano passado. Não dá para adivinhar o que se passa na cabeça do treinador. É sempre preciso buscar o melhor desempenho. O próprio Conca, depois da cirurgia no joelho no início do ano, passou a ser muito cobrado. Demais até para o meu gosto. Parece que já tinham esquecido o que ele fez no ano passado. Conca me ajudou muito, mas futebol é muito momento. Se eu estiver bem no time, vai ser difícil me tirar mesmo.

Qual seu plano de carreira? Pensa em Europa?
Penso sempre em títulos. Meu maior sonho é vestir a camisa da Seleção. Acho que todo o jogador deve e tem o direito de sonhar com isso. É a nossa maior motivação. Também penso em buscar uma estabilidade financeira fora do país. Mas gosto de dar um passo de cada vez. Hoje estou em um grande clube, curtindo muito, feliz demais. Quero fazer história no Fluminense antes de pensar no futuro.

O que dá para esperar desse Fluminense na reta final do Brasileirão?
É difícil acreditar que tem gente que ainda acha que o Fluminense não possa se superar. É a nossa característica. Nessas horas difíceis o time cresce. Agora o Fred está em boa fase, o time também... Temos que aproveitar. Mas um passo de cada vez. Vamos pensar primeiro em Libertadores. Depois, quem sabe, no título.

A personalidade forte, de quem reclama muito e já chegou até a rasgar a camisa durante uma partida, é só dentro de campo?
Sou mais contido fora de campo. Dentro, eu me transformo. Sou muito competitivo. Não entro em campo para desfilar. Aprendi isso muito cedo e sou um cara ambicioso. Carreira de jogador de futebol é curta. Preciso de muitos títulos para ter uma carreira vitoriosa. Nunca entro em campo para perder ou empatar. Independentemente da situação. Sempre briguei por isso. Fora de campo, tento me conter. Ainda sou um pouco nervosinho, mas sou também carinhoso, grande amigo... Tento ficar sempre na paz para aproveitar minha vida.

O que você gosta de fazer nas horas vagas?
Sou apaixonado por carro, moto, kart, paintball... Pelo que faça barulho. Gosto de carro com motor forte, que anda, faz barulho, rebaixado... Mudo tudo. Atualmente estou com um Mustang. Mas esse, seu eu mudar, minha esposa me mata (risos). Só acho que não vale a pena andar com uma casa em movimento. Tem que pensar na família também. Se um dia tiver muito dinheiro, é outra história. Não consigo ficar parado. Dá até coceira. Fiquei doente esses dias e não conseguia ficar em casa. Gosto muito de ir ao cinema, restaurante. Sempre com muita gente, com os amigos. Esse é o ponto forte da vida. As amizades que fazemos, as pessoas que a gente ama tem de estar sempre ao nosso lado.

Fonte: Globo Esporte

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