Canhota afiada e ousadia: Marquinho se reinventa por espaço no Flu

Chutes de longa distância encaixam e apoiador prevê boa disputa por vaga definitiva entre titulares: ‘Vou criar um problemão pro Enderson’.

A pancada de perna esquerda reapareceu. E, mais uma vez, salvando o Fluminense. Melhor ainda, ela tem se tornado rotineira em 2011. Responsável pelo gol que evitou o rebaixamento no Brasileirão de 2009, Marquinho fez de sua canhota uma arma potente por onde passou. Pelos feitos realizados com ela, chegou às Laranjeiras após cair para a Série B com o Figueirense, em 2008. No Tricolor, porém, o chute demorou a encaixar. Foi bem-vindo no histórico “Green Hell”, em Curitiba, e voltou a dar as caras na vitória por 3 a 1 sobre o Libertad, quinta-feira, no Engenhão, pelas oitavas de final da Libertadores.

Com um chute forte cruzado de canhota, Marquinho desafogou o Fluminense em uma partida complicada diante dos paraguaios. Gols dessa forma, porém, não são mais raros como há quase dois anos. Se no empate salvador por 1 a 1 com o Coritiba saiu o primeiro tento de fora da área com a camisa tricolor, o marcado contra o Libertad foi o quarto desta forma em cinco marcados pelo apoiador este ano.

- A confiança voltou – avisa.

E Marquinho está certo. A julgar pelas atuações mais recentes, o meio-campo tem procurado deixar de lado a marca de jogador com muita raça e pouca técnica. Abusado, tem arriscado dribles e, principalmente, passes mais requintados. Contra o Argentinos Juniors, em Buenos Aires, em mais uma partida decisiva parar o Flu, a estratégia deu certo e ele foi eleito o melhor em campo pelo diário “Olé”. Surpresa para alguns, mas não para o jogador.

- Na base, eu sempre fui o jogador que decidia o jogo, fazia jogada de efeito, um dos principais do time. E perdi um pouco disso no profissional. Aprendi a marcar mais do que jogar. E fui esquecendo de jogar. Esse ano coloquei na minha cabeça que devia jogar mais.

Ousadia em campo, tranquilidade fora dele. Aos 24 anos, Marquinho é casado há pouco mais de cinco meses com Jaqueline, com quem curte rotina caseira ao lado do cão Mamf (iniciais de seu nome Marco Antônio Mattos Filho) e se prepara para, enfim, se tornar titular absoluto do Fluminense.

Em quase dois anos e meio nas Laranjeiras, foram 124 exibições, 61 como titular e 63 saindo do banco de reservas. No duelo contra o Libertad, quarta-feira, em Assunção, no Paraguai, Deco provavelmente estará à disposição, a posição estará em perigo, mas Marquinho mantém a seriedade e uma certeza:

- Vou criar um problemão para o Enderson.

Confira abaixo todo o bate-papo do apoiador tricolor com o GLOBOESPORTE.COM:

Você sempre teve o chute de longa distância como uma característica, e eles demoraram a aparecer com frequência no Fluminense. Neste ano, porém, de cinco gols marcados quatro foram desta forma. A pontaria está afiada novamente?

A confiança voltou. Hoje sei que posso arriscar os chutes durante o jogo. É complicado conseguir espaço, mas também tenho mais confiança para criá-los. Tenho chegado mais inteiro na bola. Tudo isso melhorou ao longo do tempo e ajuda.

E o que fazia falta antes? Era só a confiança mesmo, ou de repente uma timidez por ser novato e menos badalado na equipe?

Foi um pouco pela timidez. É difícil sair driblando e arrumar espaço para bater. Só que este ano coloquei na cabeça que tenho um chute bom e posso fazer gols assim. Passei a buscar mais espaço e as coisas estão dando certo. Sendo assim, tenho que continuar tentando.

Desde sempre você teve essa potencia na perna esquerda? É uma característica que já o acompanhava na base?

Sim. Sempre fui o cara das cobranças de faltas, que fazia gols de fora da área. Até mesmo o Diego Cavalieri sofreu um pouco comigo (risos). Encontrei com ele já nos profissionais (do Palmeiras) e treinava bastante os chutes de longa distância após os treinos. Ficava até tarde chutando para me aperfeiçoar, melhorar.

Hoje em dia como você lapida essa virtude? É mais na base da repetição mesmo ou tem alguma inspiração?

O que te faz melhorar é mesmo a repetição. Não tem outro jeito. Não há mais nada que vá melhorar um fundamento. O principal é o treinamento. Ele te dá confiança. É importante também aprender com os erros. Ver que se batermos embaixo da bola ela vai de um jeito, se for no meio de outro... É preciso pegar certinho, do jeito ideal, e começar a repetir. Acaba saindo naturalmente.

De todos os gols que você fez de longa distância no Fluminense, qual mais te agrada?

Gosto muito deste contra o Libertad. Foi bem bonito. Mas, com certeza, para bater aquele contra o Coritiba vai demorar um pouco. Pela importância da partida, por tudo que aconteceu naquele ano, só vai ser superado por um gol de título. Senão, vai ser difícil.

Depois de um bom Brasileirão ano passado, você começou 2011 com uma concorrência ainda maior pela vaga na equipe. Se já tinha Conca e Deco, esse ano chegou o Souza. E parece que você está mais solto, mais à vontade, tem criado mais jogadas, deixou de ser só um jogador na base da disposição. O que mudou para os últimos anos?

Na base, eu sempre fui o jogador que decidia o jogo, fazia jogada de efeito, um dos principais do time. E perdi um pouco disso no profissional. Aprendemos a marcar mais do que jogar. E fui esquecendo de jogar. Esse ano coloquei na minha cabeça que devia jogar mais. Correr mais por mim e menos pelo time. Desta forma, já ajudo o Fluminense e, consequentemente, apareço mais. Tenho prestado mais atenção nas minhas ações, busco criar mais. E isso tem sido fundamental.

Diante disso, você acha que hoje em dia pode se considerar, sim, titular? Que o Deco pode até voltar, mas a vaga é sua?

Vou criar um problemão para o Enderson. Essa é a verdade. Ele tem me dado muito apoio. Quando ele chegou, até me tirou, mas veio e disse que precisaria muito de mim. Eu penso sempre em fazer o meu trabalho. A verdade é que eu não quero sair do time. Mesmo sendo o Deco um cara que nem precisamos falar do currículo, o Conca o intocável, acho que o Enderson vai acabar arrumando um espaço em campo. Ou então, vai ter que optar. Vou respeitar sempre a opinião dele, mas nunca aceitar o banco. Vou buscar uma vaga.

Se hoje o momento é bom, ainda neste ano você chegou a ser vaiado pela torcida. É algo que te chateia? Como você encara essa situação?

Chateia um pouco às vezes. É algo que não é fácil de trabalhar. A cobrança sempre vai existir, mas as vaias são um pouco excessivas. Mas entendo a cabeça do torcedor. Ele vive de emoção. Sei que quando eu fizer o gol ele vai vibrar igual. Estou dando a volta por cima de novo e eles estão vindo para o meu lado.

Você vive uma nova fase na vida, agora está casado, com casa nova. Acha que isso tem influenciado neste bom momento também?

Credito muito a isso, sim. Estou em um novo ambiente, com a mulher sempre ao lado, dando força, com moral. Tenho tranquilidade para trabalhar. Agradeço a Deus todas as coisas que conquisto e peço sempre que Ele ilumine meu caminho para seguir fazendo minha história no Flu.

Fonte: Globo Esporte

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